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Aquário 3

Aquario 3

Aquário nº 3

Zona média do rio – barragem

Uma das formas de intervenção do Homem nos rios é através da construção das barragens. Existem 50 barragens na parte espanhola da bacia hidrográfica do rio Minho. O Homem constrói barragens por várias razões: para produzir energia hidroelétrica, para ter reservas de água para consumo, para a rega, etc.

Existe um grupo de peixes, que é fortemente afetado pelas barragens, são os peixes que fazem grandes viagens. Portanto, agora vamos falar de um outro grupo de peixes, são os peixes migradores ou migratórios. O rio Minho, no que diz respeito às espécies migratórias, é dos rios mais importantes no contexto ibérico. Estamos a falar do salmão, do sável, da savelha, da lampreia, da enguia e da truta marisca. Uma parte da população de trutas comuns (referida no aquário nº 1) migra para o mar e mais tarde regressa ao rio onde nasceu. Quando regressa ao rio, vem com uma morfologia diferente, têm menos pintas escuras e fica mais prateada, sendo chamada de truta marisca, portanto tem um ciclo muito parecido com o salmão.

A lampreia é uma espécie sazonal. Começa a entrar no rio Minho a partir de dezembro, com um objetivo que é chegar ao local de reprodução. Entra gorda, e é essa gordura que lhe vai fornecer a energia necessária para subir o rio até chegar ao local de reprodução. A partir do momento em que a lampreia entra no rio deixa de se alimentar. Quando observamos uma lampreia verificamos que o seu aspeto morfológico é completamente diferente dos outros peixes. Tem características de peixes muito primitivos a começar pela boca. Tem uma boca circular, não tem mandibula nem maxilar que permite abrir e fechar a boca. A lampreia, com o disco bocal, consegue agarrar-se a outros peixes e até mamíferos, como golfinhos e baleias, e alimenta-se do seu sangue, portanto é um parasita, alimenta-se do sangue dos outros peixes. A reprodução ocorre normalmente em maio-junho, quando a temperatura da água começa a subir. Após a reprodução, ela morre. Daí, a sua presença ser sazonal. Quando ela entra no rio ela está condenada à morte, o seu objetivo está programado para se reproduzir e morrer. Pensa-se que o aumento da temperatura é um dos sinais que desencadeia a reprodução. No aquário é possível manter lampreias para além de junho porque se diminui a temperatura da água. Os peixes são animais de sangue frio, portanto, a sua atividade depende muito da temperatura da água. Quando a água está muito fria, o seu metabolismo é mais lento e quando a água está mais quente o seu metabolismo é mais acelerado.

Os peixes migradores quando sobem o rio e chegam a uma barragem não conseguem passar. Antigamente o salmão e a lampreia podiam subir 250 Km do rio Minho. Atualmente só sobem 75 Km que é até à primeira barragem, a barragem da Frieira, a seguir a Melgaço, em Espanha, próximo da fronteira. O principal problema para os peixes migratórios foi a fragmentação dos rios, ou seja, fechar o curso do rio impedindo estas passagens o que originou a perda de habitat, quer para reprodução quer para o crescimento de juvenis. Dos 17 000 Km2 da bacia hidrográfica do rio Minho apenas 10% está disponível para os peixes migratórios. Isto tem impactos e acontece praticamente em todos os rios europeus. A parte central da Península Ibérica já não tem peixes migradores.

As barragens, a poluição, as pedreiras, a extração de inertes, as espécies exóticas têm impactos, que no fundo é um somatório, que podem levar, em casos extremos, ao desaparecimento de espécies, à extinção. Foi o que aconteceu ao esturjão. Nesta região o esturjão era chamado de Solho-Rei. A pressão sobre esta espécie está relacionada com o valor económico dos óvulos das fêmeas, que dão origem a um produto alimentar muito caro, o caviar. Os últimos registos de captura são da década de 70, no sul de Portugal e de Espanha, nomeadamente, no rio Guadiana e no rio Guadalquivir, a partir daí desapareceu da Península Ibérica e de outros rios europeus, principalmente no Sul. Ainda existe uma população em França e no norte da Europa. Qual é a alternativa? A aquacultura. Existe uma aquacultura de esturjão no sul de Espanha, na zona de Granada, com o objetivo da produção de caviar.

O salmão e o sável nascem no rio mas grande parte do seu ciclo de vida decorre no mar. Depois, regressam ao rio onde nasceram, é o fenómeno chamado de homing, do regresso a casa, são fiéis ao rio onde nasceram.

A maioria dos sáveis morre após a reprodução, devido ao gasto energético que têm, porque eles não comem durante a migração para montante, mas há alguns que conseguem chegar ao mar e voltar no ano seguinte ou passados dois anos. Os sáveis começam a entrar no rio em fevereiro‑março e a sua reprodução dá-se a de maio a agosto, portanto, quando a temperatura da água sobe.

Já os salmões não morrem após a reprodução. Regressam ao mar e voltam ao rio, vão ao mar e voltam ao rio. Há registos de salmões no rio Minho com vinte quilos. Significa que faziam várias vezes esta viagem. A reprodução dos salmões ocorre no inverno portanto, em águas mais frias.

Outro grande migrador é a enguia. A enguia nasce no mar, supostamente, no mar dos Sargaços, a 4000 Km de distância daqui. Contudo, não existe a certeza do local de desova porque até ao momento nunca foi encontrada uma enguia pronta a reproduzir-se nessa zona, nem nunca foi encontrado um ovo, só se encontraram larvas muito pequeninas com cerca de 2 a 3 milímetros. Assim, supõe-se que será nessa zona que elas nascem, mas o ciclo de vida da enguia ainda é um mistério. Depois de nascerem as larvas acompanham as correntes marinhas, ou oceânicas e vão chegar aqui, pensa-se que ao fim de 2 anos, com cerca de 6 a 8 centímetros de comprimento, completamente transparentes. Nesta fase a enguia designa‑se por enguia de vidro ou meixão, os espanhóis chamam angula.

A enguia passa por diferentes fases. A fase de larva, no oceano, enguia de vidro, ao chegar ao continente, enguia amarela quando coloniza as águas interiores e fica com o aspeto que vemos no aquário e depois na sua migração outra vez para o mar, enguia prateada. Nestas 3 últimas fases ela é explorada pelo homem. No caso dos meixões ou angulas, ainda existe uma tradição de consumo em Espanha. Antigamente, também se comia na margem portuguesa porque havia grande quantidade de meixão a entrar nos rios. As mulheres andavam pelas portas a vender malgas de meixão, mas a partir da década de 80 começou a diminuir o stock à escala europeia e passou-se a vender todo para Espanha, que é o que acontece atualmente.

Ainda não se conseguiu completar o ciclo de vida da enguia em cativeiro, ao contrário do que acontece com muitos peixes que são produzidos em aquacultura como o salmão, as trutas, os robalos e os linguados. A enguia ainda não se conseguiu. Isto tem grandes implicações em termos de conservação de recurso, porque todas as enguias que nós precisamos para o repovoamento dos rios, onde há poucas enguias, para a aquacultura, para as enguias crescerem para serem enviadas para o mercado, como acontece em Espanha e nalguns sítios na França, temos que ir buscar o recurso à natureza. Então, isto gera uma grande pressão sobre esta espécie existindo momentos que o valor de 1 kg de meixão pode atingir 500€ pagos ao pescador. O rio Minho é o único rio em Portugal e na Galiza onde é permitido pescar meixão. Em todos os outros rios é proibido, mas com este valor é pescado em todos os rios, mas de uma forma ilegal. Há um autêntico mercado negro de comércio de meixão, não só para a Europa, mas principalmente para a Ásia.

A enguia amarela passa 8 a 10 anos nos estuários, nas águas doces. Vão preparar-se para uma nova viagem de 4000 Km para chegar ao local de reprodução, e esta preparação dá origem a outra metamorfose em que os olhos começam a ficar maiores, as barbatanas peitorais ficam maiores, o ventre fica prateado e acumula energia sob a forma de gordura. Esta fase designa-se enguia prateada. Depois, deixa de comer e inicia uma viagem que dura 6 meses até chegar ao local de reprodução e, supõe-se, para morrer.

Está referido que para as enguias, em termos de crescimento, a temperatura favorável é entre os 20º a 22ºC e isso é aplicado em aquacultura. A temperaturas abaixo dos 8º C elas ficam praticamente inativas, não se movimentam, e quase deixam de comer.

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