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'O Meixão do rio Minho'

27 Outubro 2020

De corpo cilíndrico e alongado, a enguia tem as barbatanas dorsal, caudal e anal contínuas. O seu corpo está revestido por um muco e escamas muito pequenas. A sua coloração pode variar bastante ao longo da sua vida pois, na sua fase juvenil e pré-adulta pode apresentar um dorso verde-acastanhado e abdómen amarelo (enguia amarela). Durante a migração para a postura, o dorso é escuro e o abdómen prateado (enguia prateada), sendo transparente na fase larvar e de enguia de vidro (meixão). As fêmeas podem atingir um comprimento máximo de 150 cm enquanto os machos só crescem até aos 50 cm.

A enguia é uma espécie catádroma que nasce no mar dos Sargaços, a cerca de 4000 Km de distância da Europa. As pequenas larvas, leptocéfalos, aproveitam as correntes do Golfo para atravessar o Oceano Atlântico num período de tempo que se estima até 2 anos, chegando à costa europeia e estuários na forma de enguia de vidro (meixão ou angula) após sofrer a sua primeira metamorfose.

Durante a metamorfose perde os dentes, não se alimentando. Progressivamente, vai adquirindo pigmentação passando a designar-se enguia amarela. Nesta fase, vai permanecer vários anos no mar, estuários e água doce, sofrendo nova metamorfose que a prepara para nadar a grandes profundidades no Oceano, rumo ao local de postura. A duração desta viagem estima-se em 6 meses.

A enguia distribui-se por toda a Europa e Norte de Africa, mas a progressiva construção de barragens e a ausência de passagens para montante origina uma perda de habitat para a espécie o que se traduz num menor número de adultos com capacidade reprodutora. Por outro lado, e ainda que consigam subir e passar as barragens, muitas enguias morrem ao passar pelas turbinas, na descida dos rios.

Na generalidade dos rios europeus, a partir dos anos 80, verificou-se uma tendência para a diminuição das capturas de meixão. Por isso, o stock da população de enguia tem que ser discutido à escala europeia e medidas de conservação e proteção têm que ser tomadas em conjunto.

A União Europeia legislou no sentido de todos os países serem obrigados a apresentar os respetivos planos de gestão para as suas bacias hidrográficas e, desde aí, vários países proibiram a captura do meixão e de enguia amarela.

O rio Minho é o único rio, em Portugal, onde é permitida a pesca de meixão, graças a um acordo entre as autoridades portuguesas e espanholas. No passado, o meixão era consumido pelas gentes ribeirinhas, sendo vendido à malga, porta a porta. Quando aumentou o seu valor económico passou a ser vendido, quase na totalidade, para Espanha onde há uma forte tradição no seu consumo. Enquanto no início se pescava o meixão com uma rapeta, principalmente na margem do rio, a partir dos anos 70 nasceu uma rede no rio Minho para capturar meixão: a tela.

No mês de dezembro, quando é grande a procura em Espanha, o preço do meixão pode atingir os 500€ o quilo, sendo que o seu valor médio ronda os 200 - 250 €, pagos ao pescador. Normalmente, os pescadores vendem o meixão a um intermediário que o comercializa para vários destinos.

Em muitos rios portugueses, onde a pesca do meixão é proibida, usa-se a tela de saco, uma rede ilegal, que fica submersa, sendo difícil a sua deteção. Esta rede tem grande impacto ecológico dado que muitos organismos morrem dentro do saco.

Os valores oficiais das capturas de meixão reportam a 1974, ano em que se começaram a registar as capturas obtidas com o uso da tela. Em 1981 obteve-se o valor mais alto, com cerca de 50 toneladas, e correspondendo à informação fornecida pelos pescadores portugueses e espanhóis. A partir de 1985 os valores declarados começaram a diminuir, de tal forma que atualmente os valores dos dois países ronda as 3 toneladas/ano.

Atualmente, a bacia hidrográfica do rio Minho tem apenas cerca de 11 % do habitat disponível para esta espécie migratória, quando comparado com a época em que não havia barragens.

A redução do seu habitat disponível nos rios devido à construção de barragens e açudes são um dos maiores problemas que esta espécie encontra. Durante algum tempo pensou-se que ajudar as enguias a passar as barragens para montante deveria promover soluções para mais tarde poderem descer o rio, mas tal não se verifica pois muitas enguias morrem ao passar pelas turbinas. A poluição dos rios e as alterações das correntes oceânicas são também apontados como fatores que têm provocado a diminuição do stock.

Um outro fator muito importante está relacionado com a presença do parasita Anguillicoloides crassus que está amplamente distribuído pelas populações de enguia na Europa, e que foi introduzido pela comercialização de enguias asiáticas. No rio Minho a prevalência deste parasita nas enguias é de cerca de 60%. Este parasita vive na bexiga-natatória da enguia e alimenta-se de sangue. Uma das consequências é provocar danos físicos neste órgão, tornando-o fibroso e não funcional. As enguias poderão não chegar ao mar dos Sargaços para a reprodução, o que se traduz num menor número de novas enguias.

Num futuro parece que aquacultura pode dar um contributo importante na manutenção do stock. Contudo, ainda não se consegue manter a enguia em cativeiro na totalidade do seu ciclo de vida sendo que os viveiros de enguia estão dependentes do meixão existente na Natureza. Assim, é muito importante o conhecimento do estado da população de enguias para uma melhor gestão deste recurso. O Aquamuseu do Rio Minho colabora num trabalho de investigação sobre a enguia, em curso no rio Minho.